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Author name: Ann H. Campbell

Ann H. Campbell é uma escritora e blogueira brasileira radicada nos EUA. Escreve romance contemporâneo, romance de época e romance com fantasia. Apaixonada pelo gênero, decidiu que escreveria tanto para o público jovem adulto como para o público adulto.

Senta comigo amanhã

Senta comigo amanhã

 

Encarei os olhos tristes, as rugas formando linhas do tempo, cada uma delas contando histórias de alegrias e tristezas que o marcaram para sempre.

A vida havia sido dura, mas ele foi ainda mais.

Da sua boca saíam as mais bonitas poesias, a saudade encravada em seu coração por uma infância que não mais voltaria.

Lembro quando eu era criança. Sentávamos em cadeiras de plástico na rua pouco movimentada, em uma época em que não haviam distrações, e conversávamos, vendo os poucos carros passarem no meio da noite. Às vezes falávamos sobre o tempo, outras sobre as memórias felizes que partilhávamos, sobre como eu pedia para que comprasse sorvete e ele me dizia que a barraquinha estava fechada. Não estava. Mas, talvez, algum outro dia conseguiria comprar uma guloseima com a qual eu me deliciaria.

Carregava-me no colo toda vez que eu chorava, balançava-me na rede sempre que eu pedia, mesmo quando seus braços estavam cansados, levava-me aos igarapés, onde eu ficava em seu colo na água rasa.

Sempre dizia como queria me levar ao lugar onde nasceu. Um dia o fez. E lá estava eu, vendo o sorriso de menino no rosto de um homem que tinha vivido tantas coisas. Descobri a inspiração para suas poesias. Sua musa era a Veneza Brasileira, coberta das águas que ele queria se banhar até o céu escurecer.

Queria me dar tudo o que podia e que não podia apenas para me ver sorrir. Eu, ainda jovem não percebia como isso me faria falta.

Saudade. Sentimento indescritível que fazia meu peito apertar. Dava-me vontade de sorrir e chorar ao mesmo tempo.

Será que se soubesse teria aproveitado mais? Amado mais? Abraçado mais? Beijado mais? Quando iríamos à pracinha de novo?

Queria voltar para aquela infância, um mundo distante eternizado e fotografado pelos meus olhos pequenos. Não sabia se as memórias eram minhas ou dele, mas meu coração sentia todas elas como se as tivesse visto acontecer, mesmo em uma idade tenra que não deveria se lembrar.

Mas estavam lá.

Às vezes as coisas simples são as que mais importam.

Eu cresci.

Os sorrisos foram ficando para trás.

Agora eu já conseguia comprar o sorvete para mim mesma.

Mas havia uma distância enorme entre nós. Eu não mais podia vê-lo com facilidade, não conseguia que me embalasse na rede quando eu queria chorar porque o mundo havia sido cruel. Queria seu colo.

Perguntava-me se algum dia conseguiria recriar a felicidade infantil quando nada mais importasse, apenas aquele momento. Poderia voltar àquela casa, sentar nas cadeiras de plástico e assistir à rua vazia? Poderia ser ninada de novo?

Como doía não reviver cada segundo.

E foi por isso que sussurrei para mim mesma:

“Vô, senta comigo amanhã.”

 

Ann H. Campbell

Poema sobre o medo de falar

Sobre o medo de falar

 

E se me escutarem?

Sinto a corda áspera apertar ao redor do meu pescoço…

Oprimindo, roçando, sufocando, enforcando…

E é então que percebo que não é uma corda.

 

Abro a boca para falar, me libertar…

Mas eu só me sinto entalar.

Talvez a verdade possa emergir.

E assim eu falo, esperando que alguém possa me ouvir.

 

A pergunta ainda paira: e se me calarem?

Mas isso não é o que mais me dá medo,

Outra pergunta surge, e eu retrocedo.

Pior que isso… e se me escutarem?

 

Ann H. Campbell

Esta não é uma carta de amor, por Ann H. Campbell

Esta não é uma carta de amor

 

Antes de começar o texto, queria dizer que sei bem que rima em prosa não é bem vista, mas quando escrevi isso, essa era minha última preocupação. O que saiu das minhas palavras, veio do coração, então decidi deixar assim. Foi proposital.

“Querido,

Escrevo essa carta porque nunca pude te dizer o que realmente sentia ou onde realmente me doía. Não foi sua culpa que eu não pude me expressar, afinal, só consegui entender o meu coração depois de o tempo passar. Essa, entretanto, não é uma carta de amor. É a carta que nunca te enviei por temor.

Já fazem mais de cinco anos e sei que segue feliz com uma nova família e talvez nem se lembre mais de mim. Mas eu lembro de você, lembro de cada palavra ferina com a qual me esfaqueou. Lembro de cada carícia que deixou um hematoma em meu corpo. Lembro de cada grito que ouvi, de cada vez que não sorri… de cada dia que morri…

Eu apenas rezo pra que ela não passe pelo que eu passei, para que não lide com os tapas que lidei… para que não guarde a dor que eu guardei…

Eu não consigo te esquecer e quem dera eu minha dor fosse de coração partido, mas é a dor de cada tapa, soco e chute deferido. Eu não sofro de amor, eu sofro de trauma e dor.

Ainda te vejo quando fechos os olhos. Em meus sonhos eu nunca consigo fugir, você está sempre atrás de mim, me fazendo lembrar das incontáveis lágrimas que deixei cair.

Não, essa não é uma carta de amor…

 

Nunca mais sua,

Apenas minha.”

 

Ann H. Campbell

Aprendi, por Ann H. Campbell

Aprendi

 

“Aprendi a me amar antes de amar a alguém. Aprendi que não dependo de outra pessoa para ser feliz. Aprendi a perdoar aqueles que me machucaram e a ressignificar meus traumas. Aprendi que deveria deixar quem eu amo livre para ir e vir e, se voltar, ficar feliz por ter feito isso por vontade própria. Aprendi que minha ansiedade não me domina e minha depressão não me mata. Aprendi que posso ser forte diante de situações difíceis. Aprendi a não correr atrás de pessoas que não me querem e amizades que não me enriquecem. Aprendi tudo isso e um pouco mais e tenho que admitir… Aprendi a mentir.”

Ann H. Campbell

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